terça-feira, 27 de março de 2012

Reorganizar a Sociedade

Para discorrermos sobre a sociedade contemporânea devemos enfocá-la em um plano histórico amplo, dividido em etapas, desde a sua organização primitiva e sua marcha progressiva. Analisar a história e relembrar princípios que regeram os destinos da humanidade.

A colocação do professor Alex Villas Boas nos remete a Augusto Comte¹, um dos estudiosos que afirmou em seus inscritos que a sociedade tinha chegado a uma encruzilhada e que deveria decidir em se extinguir ou se reorganizar. É muito interessante e intrigante esse estudo, realizado no século XIX, pela clareza de seu desenvolvimento, sem adentramos no mérito de sua execução.

Vejamos a similaridade no modo pensante da crise social, sem esquecermos de que não há como negar que todo sistema é continuidade e consequência dos anteriores. Recordamos aqui uma das aulas de Antropologia Teológica sobre a teodiceia, onde nos foi esclarecido que o novo tende anular o velho visto em épocas de mudanças/Mudanças de épocas, porém, a anulação não implica desmembramento, pois se faz presente “a causa e o efeito” e “a ação e a reação”, ou seja, do velho se faz o novo e gera uma continuidade na linha do tempo e espaço. O novo sistema está atrelado aos anteriores mesmo com as mudanças ocorridas.

Quando se busca “mudança” é porque a sociedade foi se depurando gradualmente, desde suas origens, eliminando mazelas seculares, superando sistemas inadequados de gerir o social, como vemos ainda nos dias atuais a ingerência da religião na política e no governo de povos, em direção a uma afirmação positiva de valores individuais incluídos no grupo social, podemos citar Peter L. Berger² e sua analogia da sociedade como palco de teatro, e cabe ao indivíduo optar por sua colocação, como agente participativo, coadjuvante ou meramente expectador. Podemos verificar uma contínua e progressiva marcha da sociedade, propondo ir em direção à sua maturidade³ (?) politicamente inserida na comunidade que se identifica com sociedade (sistema social organizado em prol do indivíduo). O estágio atual da civilização se configura como uma situação de limite, onde a sociedade corre o perigo de mergulhar em uma anarquia moral e política, risco ao estado pleno e definitivo da espécie humana, ressaltando valores positivos do homem e do sistema social para instaurar uma sociedade voltada para o objetivo supremo da perfeição. Temos aqui a visão(4).

Vamos analisar neste opúsculo os meios para atingir o objetivo, as crises a superar e as tendências a apoiar, para isso, privilegiaremos três aspectos (estágios): teológico/fictício (inicial), metafísico/abstrato (secundário), científico/concreto (definitivo). Um novo sistema que tende a se constituir é o de caráter fundamental destinado à época atual pelo andamento geral da civilização. Movimentos distintos e opostos agitam a sociedade: um, onde a sociedade é conduzida para uma anarquia moral e política que a ameaça para o estado social de conflitos e destruição de valores. Outro, onde a sociedade é conduzida para o estado social definitiva de valorização da espécie humana, por meios de aplicação mais direta. Semelhanças ao método positivista à parte, frisamos a influência de outros estudiosos na análise da reorganização da sociedade: Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Friedrich Engels. Os clássicos da sociologia. A preponderância que a tendência crítica ainda conserva é o maior obstáculo para a marcha progressiva e a anulação do atual sistema, sendo a causa primeira desses abalos, que se repetem sem cessar e que acompanham sempre a crise.

A única forma de deter a anarquia que invade dia após dia a sociedade é determinar a deixar a direção crítica (moral) para tomar a direção orgânica (ética), envidar os esforços para a formação do novo sistema social, objetivo definitivo da crise. É a primeira necessidade da época atual. Um exame sumário das coisas que impedem a sociedade de tomar a direção orgânica deve preceder a exposição dos meios a empregar para convencê-la a se empenhar. Os múltiplos e contínuos esforços feitos para reorganizar a sociedade, provam que essa necessidade é sentida. Mas de modo vago e impreciso, as tentativas contêm vícios em suas relações e podem não obter êxito e assim, não conseguir algum resultado orgânico e só contribuem para prolongar a crise.

Reter a sociedade na direção crítica é abandoná-la como presa das revoluções. Basta um olhar para as tentativas de reorganização empreendidas para compreender o estado atual em que se encontra a sociedade, impelida ao antagonismo, ao paradoxo e ao ambíguo. O primeiro erro que se possa apresentar é unicamente o restabelecimento puro e simples teológico/fictício em toda sua plenitude. Por mais quimérica que seja se apresenta aos “espíritos de boa fé” como remédio para a crise atual, apesar de sentirem necessidade de uma reorganização, porém, eles não levam em consideração a marcha geral da civilização, encarando somente sob um único prisma e não percebem a tendência da sociedade para o estabelecimento de um novo sistema, mais perfeito e consistente.

Do ponto de vista dos governantes, eles percebem maior evidência o estado de anárquico da sociedade, por conseguinte, experimentam com mais intensidade a necessidade de remediar esse estado. A omissão dos governantes não é devida, como creem, a causas recentes, isoladas e de algum modo acidentais. É, portanto, o princípio da crise. A decadência desse sistema se efetua de modo contínuo durante década, precedentes em consequência de modificações independentes da vontade humana, para as quais todas as classes sociais concorreram e muitas vezes os próprios governantes foram os primeiros agentes ou os mais ardentes promotores. Fazer a sociedade retroceder até a época em que a crise começou a se pronunciar é inadmissível, além de impossível, pois só recolariam a sociedade na situação que a crise necessita. Para chegar a isso teriam de anular um a um todos os progressos da civilização que causaram as perdas.

Sim, é fato, todo progresso gera perda, inclusive de valores, portanto, o que fazer para evitar essas perdas e de que forma? Faremos uma pausa para debatermos essa primeira parte e para a exposição das colocações dos colegas e assim, analisarmos as visões racionais referentes ao tema. Após a finalização do debate dessa primeira parte daremos continuidade na publicação do texto que faz parte do estudo sobre Reorganizar a Sociedade. Participe!

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1. Augusto Comte. Plano dos Trabalhos Científicos Necessários para Reorganizar a Sociedade. Maio 1822.
2. BERGER, Peter L. Perspectivas Sociológicas: Uma Visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1986. 3. Necessários elementos essenciais para estabelecer-se como valor supremo e polo de integração do homem pelo homem.
4. O que se almeja, para onde se deseja ir e alcançar, inspiração”.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Desigualdades, o calcanhar de Aquiles

por Raúl Pierri, da IPS

O presidente do BID, Luis Alberto Moreno, comandou a sessão plenária da Assembleia de Governadores. Foto: Raúl Pierri/IPSMontevidéu, Uruguai, 21/3/2012 – Os países da América Latina e do Caribe puderam amortecer o tremor causado pela crise econômica e financeira global graças a políticas anticíclicas, mas, de todo modo, devem estar alerta e atender a desigualdade social, que é seu flanco mais vulnerável. Esta foi a ideia que predominou no encerramento da 53ª Reunião Anual da Assembleia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizada entre 16 e 19 deste mês na capital uruguaia.

“O pior que poderíamos pensar é que os acontecimentos ocorridos e a forma como conseguimos enfrentá-los em cada um de nossos países resguardam quanto a qualquer tipo de tempestade”, alertou o ministro da Economia do Uruguai, Fernando Lorenzo, que foi nomeado novo presidente da Junta de Governadores. Lorenzo falou sobre o risco de cair na “autocomplacência” e que a desigualdade social é a principal debilidade da América Latina. “É uma vulnerabilidade para o desenvolvimento, mas, fundamentalmente, para a consolidação e o progresso da democracia”, afirmou.

“A prosperidade é apenas um lado da moeda, a outra são as políticas redistributivas que promovem maior igualdade. A América Latina é um dos continentes com maior desigualdade. Então, reduzir esta brecha é o grande desafio para a política econômica e social”, disse à IPS o ministro da Fazenda do Paraguai, Dionisio Borda. “Deve haver uma manejo fiscal nesse sentido para que os setores com maiores rendas sejam obrigados a uma contribuição tributária maior, de modo a ser possível financiar obras nas áreas de saúde, educação, transporte e inovações tecnológicas”, acrescentou o ministro.

No dia 18, o BID apresentou seu Informe Macroeconômico 2012, indicando que a região sofrerá uma recessão moderada se a crise da dívida na Europa se agravar e houver uma desaceleração econômica na China. Mesmo com esses dois piores cenários, a região sentiria um impacto moderado. “Somos cautelosamente otimistas”, disse o vice-presidente de Setores e Conhecimentos do BID, Santiago Levy. “A região cresceu muito nos últimos anos e mostrou ter resistência aos choques. O mais importante é que desenvolveu um conjunto de ferramentas de políticas que provaram ser efetivas durante os reveses econômicos”, destacou.

O BID prevê crescimento de 3,6% para este ano, quando em 2011 a expansão foi superior a 4%. América Latina e Caribe, com quase 600 milhões de habitantes, é uma região que se verá protegida graças ao fato de vários países, especialmente exportadores de matérias-primas, terem acumulado reservas internacionais que os ajudarão a enfrentar turbulências financeiras internacionais. “Ao contrário do que acontecia no passado, uma maioria de países pôde implantar pacotes de estímulo fiscal efetivos para moderar a desaceleração e acumulou valiosas experiências na gestão de políticas anticíclicas”, destaca o informe do BID.

Entretanto, o presidente da instituição, Luis Alberto Moreno, insistiu que a região deve permanecer alerta, pois “embora seja certo que os piores temores sobre uma recessão generalizada parecem ter ficado para trás, a crise ainda não superada”. Segundo Moreno, “os Estados Unidos surpreenderam os analistas ao conseguirem avançar melhor do que se pensava. Entretanto, seus níveis de desemprego ainda são elevados, bem como o tamanho de suas obrigações financeiras. Já a China demonstra uma dinâmica inferior à qual estávamos acostumados”.

Moreno destacou que os países da América Latina e do Caribe haviam alcançado importantes êxitos, como reduzir a taxa de desemprego para menos de 7%, em média, entre a população economicamente ativa, e que desde 2002 mais de 50 milhões de pessoas saíram da pobreza. Por outro lado, a crescente demanda por matérias-primas também faz prever ventos favoráveis para as nações latino-americanas, acrescentou. O presidente do BID confirmou a criação de uma linha de contingência destinada a “blindar os países pequenos diante de possíveis crises e desastres naturais”, e que estará pronta até o final deste ano. Os fundos sairão das próprias reservas do banco. Além disso, o BID criará com o governo da China um fundo de US$ 1 bilhão para investimentos na América Latina e no Caribe.

Acabar com a desigualdade social foi o tema central dos discursos de vários expositores no encerramento da reunião. “A democracia de nossos países não deve se basear apenas nos direitos políticos, mas também no desafio de dar uma vida mais justa, mais plena e com maiores oportunidades a todos os cidadãos das Américas”, afirmou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, o chileno José Miguel Insulza. Por sua vez, a secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, afirmou que chegou “o tempo da igualdade. Hoje, os encarregados da macroeconomia da região estão preocupados com a desigualdade. Isto é uma grande mudança”.

Outro tema que gerou preocupação entre os presentes foi a situação da segurança pública. Na região são cometidos 350 assassinatos por dia, mais do que em qualquer outra parte do mundo. América Latina e Caribe possuem 8% da população global, mas são cenários de um terço de todos os homicídios cometidos no planeta. “É paradoxal que justamente quando obtemos avanços importantes, o crime atinge níveis muito piores do que durante a chamada “década perdida” dos anos 1980, afirmou Moreno ao anunciar um fundo para facilitar a cooperação regional em matéria de segurança.

O tema também foi visto como parte do problema da desigualdade social, o principal desafio latino-americano. “A primeira arma para a segurança é a educação, é a multiplicidade da consciência coletiva”, afirmou o presidente do Uruguai, José Mujica, ao participar da sessão plenária. “A segunda é a inteligência de construir igualdade, não apenas por razões de humanidade, mas por estratégia de conveniência. Não podemos andar com uma humanidade de duas velocidades”, acrescentou. Envolverde/IPS

Maximização versus otimização

por Leonardo Boff*

Há uma ética subjacente à cultura produtivista e consumista, hoje vastamente em crise por causa da pegada ecológica do planeta Terra, cujos limites foram ultrapassados em 30%. Nunca mais vamos ter a abundância de bens e serviços como até há pouco tempo dispúnhamos. A Terra precisa de um ano e meio para repor o que extraímos durante um ano. E não parece que a fúria consumista esteja diminuindo. Pelo contrário, o sistema vigente para salvar-se, incentiva mais e mais o consumo que, por sua vez, requer mais e mais produção que acaba estressando ainda mais todos os ecossistemas e o planeta como um todo.

A ética que preside este modo de viver é a da maximização de tudo o que fazemos: maximizar a construção de fábricas, de estradas, de carros, de combustíveis, de computadores, de celulares; maximizar programas de entretenimento, novelas, cursos, reciclagens, produção intelectual e científica. A roda da produção não pode parar, caso contrário ocorre um colapso no consumo e nos empregos. No fundo, é sempre mais do mesmo e sem o sentido dos limites suportáveis pela natureza.

Imitando Nietzsche perguntamos: quanto de maximização aguenta o estômago físico e espiritual humano? Chega-se a um ponto de saturação e o efeito direto é o vazio existencial. Descobre-se que a felicidade humana não está em maximizar, nem engordar a conta bancária, nem o número dos bens na cesta de produtos consumíveis. O fato é que o ser humano possui outras fomes: de comunicação, de solidariedade, de amor, de transcendência, entre outras. Estas, por sua natureza, são insaciáveis, pois podem crescer e se diversificar indefinidamente. Nelas se esconde o segredo da felicidade. Mas nas palavras do filósofo Ludwig Wittgenstein citando Santo Agostinho: “tivemos que construir caminhos tormentosos pelos quais fomos obrigados a caminhar com multiplicadas canseiras e sofrimentos, impostos aos filhos e filhas de Adão e Eva” para chegar a esta tão buscada felicidade.

Logicamente precisamos de certa quantidade de alimentos para sustentar a vida. Mas alimentos excessivos, maximizados, causam obesidade e doenças. Os países ricos maximizaram de tal maneira a oferta de meios de vida e a infraestrutura material que dizimaram suas florestas (a Europa só possui 0,1% de suas florestas originais), destruíram ecossistemas e grande parte da biodiversidade, além de gestar perversas desigualdades entre ricos e pobres.

Devemos caminhar na direção de uma ética diferente, a da otimização. Ela se funda numa concepção sistêmica da natureza e da vida. Todos os sistemas vivos procuram otimizar as relações que sustentam a vida. O sistema busca um equilíbrio dinâmico, aproveitando todos os ingredientes da natureza, sem produzir lixo, otimizando a qualidade e inserindo a todos. Na esfera humana, esta otimização pressupõe o sentido de autolimitação e a busca da justa medida. A base material sóbria e decente possibilita o desenvolvimento de algo não material que são os bens do espírito, como a solidariedade para com os mais vulneráveis, a compaixão, o amor que desfaz os mecanismos de agressividade, supera os preceitos e não permite que as diferenças sejam tratadas como desigualdades.

Talvez a crise atual do capital material, sempre limitado, nos enseje viver a partir do capital humano e espiritual, sempre ilimitado e aberto a novas expressões. Ele nos possibilita ter experiências espirituais de celebração do mistério da existência e de gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres. Com isso maximizamos nossas potencialidades latentes, aquelas que guardam o segredo da plenitude, tão ansiada.

* Leonardo Boff é autor de Tempo de Transcendência: o ser humano como projeto infinito, Vozes 2005.* Publicado originalmente no site Adital.

Armadilhas do planejamento de portfólio de projetos

Sugestão de Mauro Cesar Leite de Oliveira

O texto abaixo foi retirado das colunas da TI Inside e achei bem interessante para todos nós, porque, em essência, na vida profissional e/ou na vida pessoal, nós vivemos por projetos e os fatores envolvidos no planejamento de projetos afeta a todo mundo.
Para mim, a definição de quanto investir, aonde investir e quando investir são as decisões das mais difíceis que tenho que tomar em relação aos projetos de gerencio.
O tema merece debate e troca de experiências.
Mãos e Mentes a Obra!!!segunda-feira, 19 de março de 2012, 22h30 - TI Inside Esforços de planejamento do portfólio de projetos freqüentemente esbarram em algumas armadilhas, como por exemplo, critérios de avaliação e priorização empíricos. Para que possamos evitar erros e produzir melhores resultados de negócio, discutiremos nesse artigo algumas boas práticas que podem ser adotadas para atender necessidades específicas de cada organização.

Introdução

Para executar os critérios de avaliação e priorização dos projetos normalmente são utilizados sistemas, planilhas, métricas e indicadores que nos dão uma visão que está baseada em nossas experiências passadas. Embora as experiências passadas sejam muito úteis e forneçam um direcionamento não necessariamente expressam completamente o momento nem os projetos que estão sendo priorizados e por isso sempre é preciso tomar decisões.

Essas decisões na maioria das vezes são empíricas, deveriam ser tomadas com base em estratégias bem definidas assim como em objetivos de desempenho e no modelo que deve ser praticado para alcançá-los.

Converter, então, os objetivos estratégicos em ações operacionais é o primeiro grande passo que as organizações devem adotar, devendo organizar essas ações em torno de sua cadeia de valor organizacional.

Estando claro o direcionamento de sua companhia, conforme informações acima, o planejamento da carteira de projetos deve estabelecer, em conformidade com as literaturas disponíveis, dois pontos de grande relevância, a saber:

1) Restrição de investimento.
É verdade que todos gostaríamos de gerenciar projetos tendo orçamentos em aberto, mas essa não é uma prática de mercado.
2) Restrição de recursos.
Nunca temos todos os recursos necessários ou temos excesso de trabalho para os recursos que temos disponíveis.

É diante desse desafio que se desenrola a prática de planejamento da carteira de projetos.

Características de um portfólio bem sucedido.

Boas literaturas de mercado sobre gerenciamento da carteira de projetos indicam que há alguns aspectos importantes que criam uma carteira bem sucedida, tais como:

- Projetos estão alinhados com os objetivos de negócio;
- A carteira tem projetos que agregam alto valor à organização;
- Os investimentos com a carteira de projetos refletem as estratégias do negócio;
- Os projetos da carteira são concluídos dentro do prazo;
- A organização gera soluções para impasses da carteira;
- A carteira é bastante balanceada com projetos de curto e longo prazo;
- A carteira tem o número de projetos coerente com o budget e recursos disponíveis.

Se observarmos o Padrão para Gerenciamento de Portfólios – segunda edição – PMI, que foi traduzido para o português pelo Capítulo PMI Ceará encontraremos a organização de processos para o gerenciamento da carteira de projetos e também uma ênfase ao gerenciamento de riscos pertinentes à carteira de projetos, contudo, como é de conhecimento geral o padrão editado pelo PMI demonstra a visão geral, a estrutura e os processos necessários para o gerenciamento de portfólios.

Há, contudo, boas literaturas de gerenciamento da carteira e dentre elas destaca-se o estudo dos doutores Robert G. Cooper e Scott J. Edgett - Portfolio Management for New Products: Picking de Winners – onde além de encontrarmos informações consistentes baseadas no padrão do PMI, é possível verificar métricas factíveis e um estudo de empresas que nos ajudam a compreender que é possível ter uma carteira de projetos bem sucedidos.

Infelizmente nem sempre a carteira de projetos é bem sucedida e em alguns casos precisamos tomar algumas iniciativas para escapar de armadilhas, especialmente no planejamento do portfólio, para melhorarmos a performance da nossa carteira.


Armadilhas ao planejar a carteira de projetos.
Sempre que é feito um planejamento estratégico, para se definir os objetivos leva-se em consideração o orçamento disponível para cada ação em particular.

Além disso, leva-se em consideração também o trabalho que deve ser executado e a partir desse ponto tem-se um escopo inicial, que nem sempre contém todos os requisitos e informações necessárias, o que pode se mostrar uma armadilha futura, mas normalmente é o ponta-pé inicial do projeto.

Esse escopo inicial normalmente é uma das grandes armadilhas que encontramos ao planejar a carteira de projetos, pois nele não temos uma visão micro dos detalhes necessários para execução e entregáveis claros, o que pode criar uma carteira de projetos mal estruturada.

Outra questão importante decorrente do escopo inicial é quão adaptável a mudanças é o projeto que estamos planejando. Quanto maior o nível de adaptação a mudanças tiverem os projetos mais fácil será manter o equilíbrio da carteira com menor impacto ao negócio.

Fora esses pontos críticos que foram citados acima, temos ainda que considerar algumas outras armadilhas, a saber:

1 – A armadilha de sobrecarregar a carteira de projetos.
Envolve uma tendência natural de concentrar-se na capacidade antes de tudo, que embora seja um bom argumento citar essa restrição quando iniciamos o planejamento da carteira, não devemos nos concentrar exclusivamente nesse ponto, pois com certeza esconderia outros problemas da carteira.
Outra peculiaridade dessa armadilha está na tendência de, em tempo de planejamento da carteira, gerir os recursos de forma muito detalhada o que é impraticável para grande parte das organizações.

2 – A armadilha de priorizar a carteira de projetos empiricamente.
É um tipo de priorização bastante comum no dia-a-dia das organizações que ocorre sem que haja uma ferramenta de avaliação do direcionamento dos investimentos para cada projeto.
Em grande parte das vezes um projeto é priorizado levando em consideração a hierarquia da companhia, ou seja, se há um projeto demandado por um determinado diretor este automaticamente recebe uma alta priorização embora nem sempre ele esteja tão alinhado com os objetivos estratégicos.

3 – A armadilha de usar o investimento de um projeto em um outro projeto.
Essa armadilha é mais comum do que parece.
Ao gerenciar diversos projetos paralelamente, um dos projetos que tinha um escopo inicial não tão claro, começa a exigir diversos novos investimentos não previstos. Para não ter que acionar a diretoria a cada nova necessidade de investimento, toma-se a decisão de desviar recursos de outros projetos para cobrir as necessidades e com isso cria-se um problema ainda maior no longo prazo.
Outra situação comum é quando um determinado projeto é paralisado por determinada situação e em decorrência de sua paralisação os recursos disponíveis para esse projeto ficam paralisados também. Quando o projeto é retomado não é feita uma revisão do investimento e como já passou algum tempo os investimentos previstos inicialmente não refletem mais a realidade atual de mercado e o projeto não tem mais o dinheiro necessário para seguirmos adiante.

4 – A armadilha de não revisar os critérios de avaliação de tempos em tempos.
Invariavelmente temos situações onde os critérios de avaliação de nossos projetos que estamos usando atualmente foram desenvolvidos há muitos anos atrás e não passaram por uma revisão, portanto não refletem o cenário atual de nossa organização.
Para uma boa governança da carteira de projetos é fundamental revisar de tempos em tempos os critérios de avaliação, sem os quais não temos condições de aferir corretamente a priorização dos projetos.

5 – A armadilha de não ter ciclos de seleção de investimento aderentes ao seu negócio.
Fazer a definição dos investimentos uma vez por ano, assim como se define orçamento é uma prática aderente a quase todas as empresas.
Há, contudo, empresas que tem projetos muito mais dinâmicos e que em decorrência desse fato precisam se organizar para que os ciclos de seleção de investimento ocorram mais vezes durante o ano.
Quando uma organização não compreende e não coloca em prática esse tipo de ação, poderá concluir um projeto no primeiro trimestre do ano e não conseguir iniciar um novo projeto imediatamente devido à necessidade de aguardar o novo ciclo de seleção de investimentos no próximo ano.

6 – A armadilha de não sermos transparentes quanto ao balanceamento da carteira de projetos.
Nenhuma carteira de projetos pode ter somente projetos da mais alta prioridade, e é fundamental que possamos criar um balanceamento dos projetos da carteira, assim como expor com grande transparência que a carteira de projetos depende desse balanceamento para que possamos obter êxito.
Além da prioridade deve-se ter em mente também a complexidade e exigência de recursos de cada projeto, para criar a sinergia necessária para entre os projetos e assim tirar proveito da melhor performance possível.

Conclusão
No ritmo em que são conduzidos os negócios em nossos dias ter um assertivo gerenciamento do portfólio de projetos é imprescindível. É através de ações que evitem as armadilhas mencionadas neste artigo que as organizações criarão ferramentas para responder às mudanças impostas pelo mercado e reagir rapidamente.
O correto planejamento da carteira de projetos também oferece a transparência necessária para a organização e garante a colaborativa de negócios necessária para o sucesso de cada projeto, sendo assim uma grande oportunidade de melhoria contínua dos processos de negócio de nossas organizações.

Sobre o autor:
Samuel Gonsales é diretor da Kayros IT Consultoria, especializada em modelos de gestão para empresas de moda e vestuário.